Os líquenes afinal são inimigos das árvores? Ou não?

A importância dos líquenes para a biodiversidade e para o ser humano

“Ajudem-me! Os líquenes estão a matar as minhas árvores”. Esta podia ser a introdução de algum livro ou filme de ficção científica. Mas não é. É sim uma ideia generalizada erradamente divulgada.

Conheça algumas das razões porque os líquenes são importantes para a biodiversidade e porque os devemos deixar nas árvores e na natureza:

1. Afinal, o que são líquenes?

Os líquenes, amplamente confundidos com musgos, são na realidade fungos, que não conseguem produzir o seu próprio alimento. Estes fungos vivem assim em associação com um parceiro produtor de alimento, uma alga ou cianobactéria, que utiliza a energia do sol para produzir o seu próprio alimento através da fotossíntese, que vai também alimentar o fungo.  Assim, tudo o que os líquenes precisam para sobreviver, os nutrientes e humidade necessários para a fotossíntese, retiram da atmosfera, funcionando como “esponjas” naturais.
 

2. Onde se encontram os líquenes?

Como a maior parte dos organismos vivos, os líquenes não conseguem viver suspensos no ar, precisam de algo onde se agarrar: pedras, vidro, cordas ou metal, ou plantas, como por exemplo as árvores.

Para se agarrarem, os líquenes utilizam estruturas em forma de pequenos pelos, as rizinas, mas que não são verdadeiras raízes, como nas plantas. Crescem preferencialmente sobre a casca do tronco e ramos e não nas folhas por onde as árvores transpiram e respiram. Ou sejam, não asfixiam as árvores, como por vezes se pensa.
 

3. Os líquenes não são os maus da fita

Há a ideia de que os líquenes parasitam e causam doenças nas árvores. Isto porque os líquenes passam despercebidos até que, por alguma razão, as árvores começam a adoecer e a morrer. E é nesta fase que os líquenes alcançam o estrelato: tornam-se mais visíveis quando as árvores perdem as folhas. E se num momento eram completamente desconhecidos, a seguir são a “causa de todos os problemas”.
 

4. Como vivem os líquenes

Os líquenes têm um crescimento muito lento, de alguns milímetros a alguns centímetros por ano. Quando se tornarem visíveis, é porque já ali estão há muito tempo, muito antes da árvore adoecer.  Os líquenes crescem em árvores jovens ou envelhecidas, saudáveis ou doentes. Por exemplo, em várias florestas de carvalho pelo país, com árvores saudáveis e majestosas, é possível observar troncos e ramos das árvores completamente cobertas de musgos e líquenes. Há até um líquene em particular, vulgarmente conhecido como “o pulmão dos carvalhos”, que é indicador de uma floresta evoluída, saudável e com ar puro.
 

5. Porque devemos deixar os líquenes nas árvores?

Os líquenes trazem diversos benefícios para o ser humano e para vários animais. São utilizados na cosmética, perfumaria, tinturaria natural e farmácia devido às suas diversas propriedades antibióticas, anti-inflamatórias, anticancerígenas entre outros. Ao absorverem da atmosfera tudo o que necessitam para sobreviver, incluindo poluentes e metais pesados, são também muito úteis como ferramenta biológica de monitorização ambiental fácil de manter e muito económica.

Líquenes são também extremamente importantes para animais servindo de habitat e refúgio para várias espécies de invertebrados, alimento para caracóis e mamíferos e na reprodução de várias espécies de pequenas aves, como os beija-flor, que constroem os seus ninhos com líquenes e musgos. Desta forma, para além de todos os benefícios que fornecem ajudam a manter a biodiversidade local. 

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Por:

Erika Almeida

Estudante de Doutoramento em Biologia
30 de Jan, 2023

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