Alfarrobeira: uma planta mediterrânica valiosa com muito potencial para explorar
Resiliente, sustentável e economicamente promissora, a Alfarrobeira tem sido uma presença discreta, mas essencial, nas paisagens mediterrânicas ao longo dos séculos. Mais do que uma simples árvore, é um símbolo de adaptação e um recurso valioso com aplicações inovadoras, desde a gastronomia à indústria farmacêutica e à agricultura sustentável.
Descubra o potencial escondido desta espécie e como a ciência está a impulsionar novas formas de valorização da alfarroba e dos seus subprodutos.
1. A Alfarrobeira
A alfarrobeira (Ceratonia siliqua L.) é uma árvore mediterrânica da família Fabaceae, perene e de crescimento lento, que pode atingir 5 a 10 metros de altura, com uma copa densa e arredondada. As suas folhas são compostas, de cor verde-escura, adaptadas a climas secos, e o seu extenso sistema radicular garante excelente resistência à seca, tornando-a ideal para solos pobres e regiões com baixos índices pluviométricos. Sendo uma cultura de baixo custo de manutenção e altamente adaptada a condições adversas, é uma alternativa viável para áreas com recursos agrícolas limitados.
Durante séculos, a alfarrobeira desempenhou um papel crucial na economia da região mediterrânica. Os egípcios utilizavam os seus frutos para fazer vinho e as vagens secas para tingir couro e fazer rosários. Além disso, a alfarroba era utilizada como alimento para o gado e para garantir a sobrevivência em tempos de escassez alimentar, simbolizando segurança e resistência na cultura mediterrânica. Em Portugal, a sua produção concentra-se sobretudo no Algarve, onde se produzem cerca de 40.000 toneladas por ano, das quais a maior parte é destinada à exportação.
2. Interesse Económico
A alfarrobeira tem um elevado interesse económico devido à sua multifuncionalidade e aos produtos derivados do seu fruto: a alfarroba. O principal produto da alfarroba é a goma (LBG, E410), extraída do endosperma da semente. Este aditivo é amplamente utilizado como espessante e estabilizador em produtos alimentares, como gelados, molhos e sobremesas lácteas, bem como na indústria farmacêutica, cosmética e na produção de biomateriais.
3. Interesse Ecológico
A alfarrobeira desempenha um papel crucial na conservação dos ecossistemas mediterrânicos. Graças à sua resistência à seca e à capacidade de se adaptar a solos pobres, esta árvore contribui para a fixação do solo, ajudando a prevenir a erosão e a combater a desertificação. Além disso, promove a biodiversidade ao servir de habitat para várias espécies de fauna e flora.
O sistema radicular profundo da alfarrobeira melhora a fertilidade do solo e contribui para a captura de carbono, ajudando a mitigar as alterações climáticas. Os pomares de alfarrobeiras podem igualmente integrar sistemas agroflorestais sustentáveis, promovendo a diversificação agrícola e fortalecendo as economias locais.
4. O Fruto – A Alfarroba
A alfarroba é uma vagem de cor castanho-escura, com comprimento entre 10 e 30 cm, composta por uma polpa adocicada e sementes duras. A polpa representa cerca de 90% do peso da vagem e é rica em pectinas, taninos, fibras e açúcares naturais. Estes componentes conferem à alfarroba um elevado potencial na indústria alimentar.
Utilizada como alternativa ao cacau, a farinha de alfarroba é isenta de teobromina e cafeína, sendo uma opção mais saudável e com baixo teor de gordura. É utilizada em produtos como bolos, biscoitos, chocolates e licores. Recentemente, tem-se destacado o seu papel como adoçante natural, uma alternativa mais saudável ao açúcar refinado, com propriedades benéficas para pessoas com diabetes ou que procuram manter níveis de energia estáveis.
A polpa de alfarroba é também utilizada como substrato em viveiros de plantas e em corretivos orgânicos na agricultura.
5. Valorização dos subprodutos da semente de alfarroba: o projeto BigSeed
A semente de alfarroba é constituída por gérmen, endosperma e casca. O endosperma é a parte mais valorizada, sendo utilizada na produção da goma de alfarroba. O gérmen apresenta um elevado teor de proteínas, vitaminas B1 e B2, e caroubina, uma proteína insolúvel que pode substituir o glúten em aplicações alimentares.
Além do setor alimentar, a semente tem potencial em vários outros setores. O projeto BigSeed (2022.07519.PTDC – Grandes oportunidades numa pequena semente: valorização dos subprodutos da alfarroba em novos hidrogéis para agricultura sustentável), que decorre na Universidade do Algarve em parceira com a empresa A Industrial Farense Lda. (líder mundial no processamento da alfarroba), procura introduzir novas abordagens para a exploração dos subprodutos da semente de alfarroba, visando aproveitar todos os seus constituintes e obter materiais de valor acrescentado para aplicações agrícolas. Concretamente, pretende-se desenvolver hidrogéis a partir de derivados da semente de alfarroba que aumentem a eficácia de absorção e libertação de água, reduzindo a frequência e o volume de água de irrigação, o que ajudará a mitigar um dos grandes problemas atuais do setor agrícola.
Com um mercado em expansão e benefícios ambientais crescentes, a alfarrobeira consolida-se como um exemplo claro de como a agricultura pode aliar produtividade, sustentabilidade e inovação.
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Por:
Anabela Romano
Investigadora do MED, Coordenadora do Pólo MED-UAlg & Professora Catedrática da Universidade do Algarve
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Bruno Medronho
Investigador do MED, Coordenador do Grupo de Investigação Proteção de Plantas, Genética e Biotecnologia
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Sandra Gonçalves
Investigadora do MED & Professora Auxiliar da Universidade do Algarve
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