Documentário “Côa Mais Selvagem” na Universidade de Évora

Abr 11, 2025Notícias

Texto da autoria de André Oliveira -Técnico Superior na Universidade de Évora, colaborador do MED

No dia 19 de março, recebemos no Colégio do Espírito Santo da Universidade de Évora, o documentário “Côa Mais Selvagem” da Associação Rewilding Portugal. Este evento foi organizado pela Universidade de Évora, MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, CHANGE – Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade, em parceria com a Associação Terras d’Ossa e a Rewilding Portugal.

Por volta das 9h30, houve uma pequena apresentação dos oradores feita por António Mira, investigador do MED e professor do Departamento de Biologia da Universidade de Évora, passando de imediato à exibição do documentário. Foi uma hora recheada de espetaculares imagens do Grande Vale do Côa, que engloba cinco concelhos das regiões interiores norte e centro de Portugal: Sabugal, Almeida, Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Nova de Foz Côa. Localizado na zona raiana, o rio Côa nasce nos Foios, mais concretamente na Serra das Mesas, a 1 175 m de altitude, próximo da serra da Malcata. Percorre cerca de 135 km até desaguar na margem esquerda do rio Douro, perto de Vila Nova de Foz Côa, a 130 m de altitude. É dos poucos rios portugueses que efetuam um percurso na direção sul-norte. Com vales profundamente encaixados, é uma área conhecida pelo seu património de gravuras e pinturas rupestres, do Paleolítico Superior, onde estão representados cavalos, bovídeos, caprídeos e cervídeos (Wikipédia, 2025).

Durante o debate, foram abordados temas relacionados com a compatibilização da renaturalização de espécies animais com o desenvolvimento local das populações humanas; faz sentido o uso de espécies não autóctones no processo de “rewilding”?; o que é o retro-cruzamento, processo para a recuperação do auroque através do cruzamento de raças rústicas de bovinos (programa Taurus)?; qual o papel das entidades de decisão política e gestores de território nos projetos desenvolvidos na região?; o restauro ecológico dos habitats naturais com impacto na paisagem raiana; como potenciar o papel das aves necrófagas que prestam um serviço de ecossistema tão importante para a manutenção do ciclo dos nutrientes?; qual o interesse para a conservação da natureza do uso de novos territórios para renaturalização de espécies (como está a acontecer com a implementação de um santuário de elefantes no Alandroal)?; entre outras questões.

Foi uma manhã pontuada pela partilha de experiências e opiniões, mas principalmente marcada pelo extraordinário documentário do Grande Vale do Côa. Resta agradecer a todos os participantes que tiveram disponibilidade para se deslocar até à Universidade de Évora, à Associação Terras d’Ossa pela ajuda na organização e, principalmente, à Associação Rewilding Portugal por ter aceitado o convite de vir ao sul do país apresentar o seu filme e esclarecer todas as dúvidas dos presentes.

Banner MED às 4as 16 de abril 2025

O documentário apresentado mostra ainda muitas das espécies animais que regressaram ao Grande Vale do Côa, graças ao trabalho da Rewilding Portugal e dos seus parceiros. Desde os abutres (preto, grifo e britango), aos cavalos (Sorraia, uma raça portuguesa), passando pelos bovinos (Taurus) e pelas presas preferenciais do lobo-ibérico (como o corço e o veado). Estas espécies silvestres, juntamente com todas as outras que compõem os ecossistemas da região providenciam tanto valor ambiental, como cultural e económico aos habitantes humanos. Sim, porque fica patente também neste filme a relação que tem sido potenciada pela reabilitação dos habitats e de como as populações locais podem beneficiar com o projeto.

Depois de assistir ao documentário, passámos à sessão de debate com a presença de Pedro Prata, diretor executivo da Rewilding Portugal; Pedro Ribeiro, técnico de conservação; Marta Cálix, diretora de operações; e Fernando Teixeira, diretor de comunicação e enterprise. Foram mais duas horas de enorme entusiasmo e discussão com o público, onde estiveram os alunos do mestrado em Biologia da Conservação, muitos profissionais da Universidade de Évora e também membros da associação Terras d’Ossa, que esteve na co-organização do evento.