Relatórios não financeiros e Agricultura – Da Eficiência à Resiliência

ESG e Agricultura – Da Eficiência à Resiliência

Descubra como os conceitos de resiliência financeira e ambiental estão a redefinir a agricultura moderna, tornando a sustentabilidade uma prioridade estratégica para o setor. Saiba mais sobre a importância do Relatório não financeiro das empresas (ESG) e como este projeta o futuro da produção agrícola.

1. Evolução da Agricultura de Precisão

Há meia dúzia de anos atrás se tivéssemos que definir Agricultura de Precisão seguramente a “…Otimização dos recursos numa perspetiva económica e ambiental…” seria mencionada. Atualmente a definição será mais do tipo “…Otimização dos recursos numa perspetiva económica e de risco financeiro…”. Sim, quem pensava que o ambiente e a sustentabilidade estavam associados aos apaixonados da ecologia, engana-se, a sustentabilidade está cada vez mais associada ao risco financeiro, pois os recursos financeiros não gostam mesmo nada de riscos e num mercado global onde o capital circula livremente os riscos estão ao virar de cada esquina.

2. Relatório Não Financeiro e a mitigação de riscos ESG

Para controlar de certa forma os riscos financeiros, surgiu o “relatório não financeiro das empresas”, conhecido por ESG (Environmental, Social, Governance) e que segundo a recente normativa europeia, obrigará até 2026 mais de 54000 empresas europeias a apresentá-lo.
Em que consiste este relatório?: Temos riscos físicos, como os que ocorreram recentemente nas enchentes do Rio Grande do Sul (Brasil), provocados por anomalias climáticas (E); temos os riscos sociais, quando certas empresas, por exemplo, maltratam os seus colaboradores ou minorias (S); e temos os riscos de governança, quando por exemplo uma empresa contrata na sua cadeia de valor, mão de obra escrava, ou mão de obra infantil (G). O relatório não financeiro (também designado de relatório de sustentabilidade) é produzido, precisamente, com a intenção de caracterizar as empresas neste aspeto.

3. Eficiência vs. Resiliência na Agricultura

No mundo atual e na esfera do ESG já não é suficiente ser Eficiente, também há que ser Resiliente pois os recursos financeiros estão a descobrir que a resiliência a médio-longo prazo é mais rentável do que a eficiência a curto prazo.

Trajetória da Eficiência à Resiliência: 

Eficiência

Estimula rapidez
Economia de escala
Perspetiva linear
Gestão de risco
Desregulamentação
Capital intensivo
Curto prazo

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Resiliência

Apreende a complexidade
Economias de rede e de  aglomeração
Perspetiva sistémica
Mutualização do risco
Regulação e regulamentação
Capital paciente
Longo prazo

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Um exemplo bem claro em agricultura pode ser dado com o olival super intensivo (em sebe), pois é um sistema altamente eficiente no que toca ao GWP (“Global Warming Potential”) uma vez que do ponto de vista das emissões de equivalentes de CO2 (CO2eq) por tonelada de produto produzido é um sistema que apresenta emissões muito baixas, contudo, apresenta problemas sérios de biodiversidade (E) e de paisagem e potencialmente um risco financeiro muito alto caso apareça uma praga multirresistente aos pesticidas homologados e que possa dizimar os milhares de hectares instalados na Península Ibérica, fazendo perder dessa forma quase todo o valor acumulado até essa data.

Podemos ainda buscar outro tipo de riscos elevados no presente, como um golpe de calor persistente na altura da floração impactar na produtividade generalizada deste tipo de sistemas. De repente faz-me até recordar, a título de um terceiro e quarto exemplos vividos no nosso país, o impacto societário da peste suína africana nos suínos e a filoxera na vinha.

Um sistema resiliente, pode sim contemplar como parte da solução o olival super intensivo (em sebe), porque é um sistema eficiente, todavia integrado num MOSAICO com outro tipo de culturas e atividades onde a redução do risco financeiro é conseguida não pela eficiência, mas sim pela resiliência e pelo “mix” de atividades e circularidades associadas.

4. Transição para a Resiliência

As empresas agrícolas, pela normativa europeia não são obrigadas a apresentar o seu ESG, contudo irão ser altamente arrastadas nesse processo pela sua cadeia de valor e de forma especial pela distribuição, banca e seguradoras, pois o risco financeiro não perdoa. Se é empresário agrícola julgo que já deveria estar a pensar seriamente no seu ESG e na coleção de dados que este vai obrigar, bem como, aprender a fazer a transição da eficiência para a resiliência em agricultura.
O MED, como centro de conhecimento nacional e internacional está comprometido com esta transição societária, como tal, estaremos ao seu lado para o que julgar necessário.

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Por:

Rafael Silva

Investigador do MED, Professor do Departamento de Engenharia Rural da Universidade de Évora & Coordenador do Grupo de Investigação Tecnologia Agrícola e Eficiência Energética

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