Investigadora do MED descobriu trufa de Verão em Portugal
Celeste Santos e Silva, investigadora do MED e docente no Departamento de Biologia da Universidade de Évora, juntamente com o chef Tanka Sapkota anunciaram esta semana a descoberta desta tão apreciada iguaria gastronómica que foi identificada pela primeira vez em Portugal – a trufa de Verão.
O chef Tanka Sapkota, proprietário de restaurantes de renome, cozinha trufas (fungos que crescem ligados às raízes de algumas árvores) há 30 anos. Há cerca de 2 anos tem-se dedicado à prospeção de trufas em Portugal, sendo sua vontade promover a sua produção. A responsável pelo Laboratório de Macromicologia do MED, Celeste Santos e Silva, tem-se juntado a algumas visitas de campo e tem, juntamente com outros colegas, identificado várias amostras de trufas provenientes destas prospeções, bem como de outras amostras que vão recebendo no laboratório. Foi numa dessas amostras que foi identificada a trufa de Verão.
Estivemos à conversa com Celeste Santos e Silva que nos respondeu a algumas curiosidades:
MED: O que torna a trufa de Verão tão especial do ponto de vista científico?
CSS: Conhecida em Espanha, França e Itália esta espécie de trufa nunca tinha sido colhida em Portugal. Não sabemos ainda qual a variedade, mas seguramente trata-se de uma espécie do grupo Tuber aestivum s. l. Estamos a analisar mais exemplares e a realizar trabalhos de Biologia Molecular para confirmarmos a sua identidade.
MED: E do ponto de vista económico?
CSS: É uma trufa apreciada em todo o mundo, muito aromática quando está madura, podendo ser vendida entre 40 a 180 € por kilo, dependendo da dimensão e, claro está das leis da oferta e procura. É uma espécie de fungo muito prolífica, podendo produzir 100 kg por hectare.
MED: Que caminhos abre esta descoberta?
CSS: Seja de origem espontânea ou não, é a primeira vez que este fungo frutifica (produz trufas) em território nacional, abrindo horizontes para a sua produção em massa. Recolhemos amostras de solo e de raízes para saber mais sobre as condições em que este fungo vive e poderemos replicá-las no futuro.
O Laboratório de MacroMicologia do MED na Universidade de Évora executa diversos trabalhos de micorrização de plantas hospedeiras com fungos produtores de cogumelos há vários anos, sendo o caso mais particular a produção de sargaços micorrizados com Terfezia spp. para produção de túberas (veja o vídeo para mais informação: https://youtu.be/fI-i0FX_hyI). Mesmo antes deste acontecimento, os investigadores do MED já estudavam hipóteses de usar espécies do género Tuber para ampliar a sua oferta. Esta descoberta fantástica veio reforçar ainda mais a investigação que está a ser desenvolvida.
Exemplar de trufa de Verão (espécie do grupo Tuber aestivum s. l)
Pormenor de esporos da trufa de Verão observados ao microscópio
Celeste Santos e Silva numa visita de campo pela Herdade da Mitra, pormenor do Painel “Jardim dos Cogumelos”.